Persépolis, de Marjane Satrapi

2 de abril de 2018


Quer saber o que eu achei de Persépolis, história em quadrinhos criada por Marjane Satrapi? Então leia essa postagem!

Olá pessoal, tudo bom? Como foi a Páscoa, comeram muitos chocolates? Sei que ando meio sumida, mas é que março foi um mês em que tive algumas provas de concurso para prestar, então mal tive tempo para ler alguma coisa ou fazer resenhas aqui para o blog. Porém, agora que um mês novo começou, espero voltar a rotina normal de estudos, no qual tenho tempo para me aventurar em outras leituras. Ontem passei a tarde com Persépolis, uma autobiografia ilustrada da Marjane Satrapi. Essa artista é iraniana, então conta um pouco sobre a sua história em um período conturbado do seu país, ainda mais por ser mulher. Vamos conferir o que eu achei dessa obra?

Editora: Companhia das Letras. Ano de Lançamento: 2007. Páginas: 352.
SkoobGoodreads. Onde comprar: AmazonSaraiva.

Uma cultura totalmente diferenciada e opressora

Marjane estava com apenas dez anos quando percebeu a primeira grande mudança que veio com a revolução xiita: o uso do véu. Além de ter que ir para uma escola só para meninas - quando, até aquele momento, tinha estudado em uma escola francesa que tinha os dois gêneros -, se viu obrigada a usar algo que não tinha uma opinião sobre. 

Com traços belos e simples, em uma arte em preto e branco, nos leva em uma jornada através de sua vida particular. De menina à mulher, nos conta a sua história recheada de luta e de opressão. Ela veio de uma família que tinha histórico na política do seu povo, então desde jovem tinha uma vida tranquila financeiramente e, ainda, com muita leitura. Os pais não tinham medo de lhe ensinar sobre a política e a religião, ou esconder sobre as próprias lutas.

Preconceito, machismo e xenofobia são apenas algumas coisas que ela sofreu. Vemos o seu amadurecimento e como agiu diante dos problemas que lhe atingiram. Até a confusão quando adolescente, sobre as suas primeiras vezes, nos é demonstrado. É uma retrato muito pessoal que nos ensina, até mesmo, algumas lições. Uma delas é de se aceitar como é.


Alguns momentos, o sentimento de revolta e impotência são grandes. Ver que, por exemplo, uma das justificativas para o uso do véu ser porque o cabelo tinha raios excitantes; portanto, as mulheres que não usavam, poderiam ser estupradas - a sua mãe foi, inclusive, ameaçada disso - é assustador. Então, a população daquele país, principalmente as mulheres, se viam obrigadas a seguir algumas "recomendações", sem o direito da liberdade de escolha.

Isso, na verdade, é umas das maiores atrocidades de um país governado com base na religião: a falta de liberdade. Um país como o nosso, por outro lado, nos dá (entre aspas, em muitas ocasiões) a escolha de seguirmos uma religião. Você quer seguir o doutrinamento e os princípios de uma delas, você tem autonomia para isso. Se tem fé em algo, mas realiza algumas práticas que são condenadas por ela, você também tem permissão de fazer, mas sofrerá as consequências depois - muitas vezes, após a morte (de acordo com a doutrina praticada). Entretanto, ser presa ou chicoteada por usar maquiagem? Por escutar um tipo de música que não é aceita? Por vestir uma roupa que marca a silhueta? É horrível, só de se pensar.


É uma diferença cultural gritante, mas, em outros pontos, podemos ver as semelhanças. A cultura machista está presente em grande quantidade, com as mulheres não sendo iguais aos homens. Podemos até ter alcançado a libertação da nossa sexualidade, mas ainda somos julgadas como "para namorar ou para transar"; podemos ter conquistado a Lei Maria da Penha para fazer denúncias de violência doméstica, todavia ainda temos um alto índice de feminicídio; podemos ter conseguido o direito do divórcio (que lá era só com a autorização do marido na certidão de casamento); no entanto ainda temos a responsabilidade total (na maioria dos casos) do cuidado da casa e da educação dos filhos - mesmo que trabalhemos fora e dividimos o orçamento doméstico. Não estamos tão libertas assim.

Devemos refletir sobre as nossas próprias atitudes e como ensinamos as crianças a se comportarem. Precisamos mudar os nossos hábitos opressores, onde tentamos enfiar nossos valores na vida de outra pessoa, mesmo que ela não queira. Para termos liberdade, precisamos liberar a intolerância e a repressão dentro de nós. E, logicamente, precisamos lutar pelos nossos direitos, não ficando caladxs diante das injustiças ou não ter empatia por outras lutas. Não é porque não lhe afeta, que deve ser ignorado.


Marjane mostrou que não ficou parada. Tentou lutar por aquilo que acreditava. Errou, acertou, errou novamente e acertou outra vez. Ela era humana e buscou a sua liberdade. Nos ensinou sobre a sua cultura opressora e nos mostra, com outros olhos, mais íntimos, o cotidiano de uma garota iraniana que não aceitava o sistema imposto.

É uma obra que eu recomendo muito, pois é simples de se ler e pode, inclusive, ser didático. Você aprende sobre um novo povo, cultura e religião. É bonito, triste e chocante ao mesmo tempo. Mas prometo que vale a pena, principalmente para quem tem uma mente mais aberta e que não se importa de aprender coisas novas. Eu acredito que todo mundo deveria ler!

E vocês, já leram essa HQ? Querem ler? Qual é a opinião de vocês?

Comentários
18 Comentários

18 comentários :

  1. Persepolis é uma história incrível, sobre lutar por seus objetivos, sobre conquistar e acreditar naquilo que é correto.
    Eu amo essa história demais!!!!
    E amo mais ainda ver que leitores também sentem o mesmo ♥

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  2. Sempre vejo esse livro por aí e tenho muita curiosidade por ele, pena que sempre está tão caro, kkkk.
    Deve ser bem interessante conhecer essa cultura nova, e adorei saber que ele é bem didático!

    Virando Amor

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  3. Olá!
    Não conhecia! Fiquei bem interessada na leitura, pois fala dos direitos e liberdade. Realmente é verdade, não estamos tão libertas assim....
    Tenho uma mente bem aberta e vou anotar a dica.
    Bjos

    www.momentosdeleitura.com

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  4. Comi menos chocolate do que gostaria, mas foi o suficiente para me deixar com remorso dos quilos a mais.
    Quanto ao HQ,eu não conhecia Marjane, mas achei o livro de um bom gosto indescritível e pelo que falou essa sem dúvida é uma mulher que preciso conhecer mais. Achei inovadora a forma como um conteúdo didático e histórico foi apresentado, com certeza cativa mais pessoas.

    Abraços.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/

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  5. Oi! Que barra! Odeio ler livros assim, porque o sentimento de revolta e nojo batem tão forte que minha cabeça chega a doer! É impensável um lugar onde você tenha que usar véu para esconder seus cabelos, porque eles são excitáveis e não pode correr porque seu corpo se meche de maneira imprópria! Por isso que muitas vezes falo, que por mais que aqui esteja ruim, imagina ter nascido num lugar como esse? Não dá pra conceber! Tem que ter luta sim, enquanto mulher for vista como um objeto, enquanto for morta por não querer mais estar com um determinado homem, tem que ter luta!
    Adorei a dica! Obrigada!

    Bjoxx – http://www.stalker-literaria.com/

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  6. Oi Dani!
    Eu li uma parte dessa HQ quando estava na escola e lembro que adorei. Depois de alguns anos, eu comprei ela e ela está parada por enquanto. Quero muito ler ela o quanto antes, mas como estou lotada de leituras, não sei se vou conseguir tão já... Acho muito importante essas obras, pois nos mostra uma outra cultura e o quanto as pessoas sofrem em alguns países, principalmente as mulheres.
    Adorei o post!
    Bjss

    http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com.br

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Olá! Sempre me deparo com resenhas positivas a respeito dessa HQ e >sempre< me questiono sobre o porquê de ainda não ter a comprado. Parece ser uma leitura extremamente enriquecedora! Adorei conferir sua resenha, está impecável. Beijos.

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  9. Já tinha lido uma resenha anterior, mas que não me impressionou tanto como essa! Sua resenha me deixou louca pela história! Quero ler! Vou ler!

    Sistemas de governo que oprimem os seres humanos e se escondem por traz da cultura e da religião para cometer atrocidades, violar os Direitos Humanos me causam repulsa.

    A Band exibe novelas turcas. Ultimamente tem apostado em novelas que não curto muito, mas um tempo atrás exibiu a novela Sila - Prisioneira do Amor e mostrou a realidade cultural da região em que muitas pessoas eram executadas por motivos totalmente sem noção. Se uma menina quisesse estudar e a família fosse contra e mesmo assim ela insistisse já era considerado uma desonra e ela era condenada à morte. Isso não é cultura, é desumanidade.

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  10. Olá Dani,
    Esse livro parece ter ensinamentos valiosos, não é? Eu confesso que não curto muito ler HQ, mas por conta do tema e dos ensinamentos que esse livro traz é impossível não desejar ler. Eu gostei muito dos trechos que você apresentou na sua postagem e vou anotar a dica, espero me encantar tanto assim com a história.
    Beijos

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  11. Olá!
    Não conhecia esse livrinho apenas de nome mesmo, mas achei muito legal os assuntos levantados e os questionamentos trazidos. Sem dúvidas uma leitura para levar a reflexões e porque não debates. Acho que daria uma boa opção para ser trabalhada em sala de aula.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  12. Oi Dani,

    Não conhecei esse livro e confesso que quando comecei a ler a resenha ele ainda não tinha me chamado a atenção, não sei explicar. Mas é que o seu estilo não se encaixa nas minhas preferencias, mesmo eu adorando ter o contato com uma nova cultura. É sempre muito bom conhecermos antes de julgar.

    Adorei as ilustrações em quadrinhos que postou!

    beijos

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  13. Bom dia!!!

    Já vi algumas resenhas sobre esse livro e ele é bem bonito, né!
    Parece ser uma leitura incrível e eu não sabia que era autobiográfico!!!

    Vou anotar para não esquecer dessa dica!

    Bjs

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  14. Olá! Tudo bom?

    Eu não tenho o habito de ler autobiografias mas achei MUITO interessante o modo que essa foi feita. Achei muito interessante as coisas abordadas na história, esse livro aparenta ser daqueles tipos que ao terminar de ler adquirimos muito aprendizado e coisas para refletir, adorei! Anotei a dica ♥

    Um beijo

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  15. Olá Dani!!!
    Juro que toda vez que vejo essa capa a primeira coisa que me veem a cabeça é "Malévola", não me pergunte por que??
    Eu adorei ver algumas tirinhas separadas e gostei que a autora apesar de outra cultura mostra a situação que a mulher passa só porque ela é mulher.
    Adorei a resenha!!!

    lereliterario.blogspot.com

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  16. Oiee Dani ^^
    Eu já tinha visto resenhas sobre esse livro antes, mas confesso que tinha esquecido dele...haha' e olha que tinha anotado em algum lugar o título para procurar depois. Eu gosto muito de histórias que, além de nos ensinarem, ainda conseguem nos marcar e trazer vários sentimentos. Parece ser incrível e muito envolvente!
    MilkMilks ♥
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br

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  17. Preciso muito desta leitura, pois como você disse apesar da mulher ter conseguido vários direitos em nosso mundo, ainda existem vários lugares que elas são subjugadas,e tratadas como mero objetos. Gostei de como a essa biografia foi trazida, e dos temas que nela são tratadas. Gostei das tirinhas que você trouxe, deu pra dar um gostinho a mais pela leitura

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  18. Ai, eu quero MUITO, mas muito MESMO ler essa obra.
    Tanto pela edição ser linda, como para saber mesmo um pouco mais sobre a cultura e a luta dessas mulheres, que precisam sobreviver em meio a tanto machismo, violência e morte. Muito obrigada pelo post, ficou incrível!

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